Nas minhas confissões eu digo que
te quis como queria escrever meu primeiro poema. E era você as minhas primeiras
linhas tortas onde deus não escrevia. E minhas linhas se endireitaram a ponto
de se entortarem de novo.
E a minha primeira prosa foi
você. Proseamos um dia inteiro e o dia pela metade me parecia. Mas o dia estava
completo. Repleto da poesia que emana dos teus lábios sem que você perceba. E
eu sempre recolho.
Experimentando o sabor que sai
deles, percebo que Drummond, Machado de Assis, Rimbaud, Baudelaire e tantos
outros não faziam a menor ideia do que era a poesia imaculada, pura e em flor.
A poesia em botão que floresce junto ao meu peito. A poesia que atropela pontos
e vírgulas e pausas porque é tão apaixonada que não sabe respirar enquanto
percorre toda a essência do teu ser e se espalha pelo meu corpo como o perfume
mais embriagante e me leva para um canto distante onde eu possa me perder.
Quem se importa com as doses de
lirismo das quais me embriaguei antes de te ver naquele começo de ano que agora
me soa distante? Não existia poesia antes dos meus lábios conhecerem os teus.
Ninguém nunca fará uma epopeia saudando meus tempos de embriaguez. Ninguém se
lembrará dos vinhos que bebi e das poesias que foram abortadas por eles.
Ninguém.
Mas todos irão lembrar-se da
poesia que se fez carne; a carne que é consumida por mim. Todos hão de lembrar,
antes que o ocaso falhe a memória: ele tinha uma Poesia!
Sim!, ele tinha uma Poesia com
letra inicial maiúscula!, dirão. Tinha ele uma sereia, uma ninfa... ou qualquer
nobre atribuição que queiram lhe competir. Aliás... Não. Ela não era sereia,
ninfa ou qualquer nobre atribuição que queiram lhe competir... Porque ela
transcendia tudo que há e há de haver neste mundo! A poesia foge a qualquer
definição e tentar defini-la seria limitar os batimentos cardíacos de uma
pessoa.
Ele tinha uma Poesia., digam isso
e já basta. Não se lembrem de mim. Não há necessidade; um artista que se preza
sabe que quem deve ser conhecida é a obra, não o artista. Basta dizerem que ele
tinha uma Poesia. E eu concordarei. Ela é sua magnum opus em suas nuances e matizes. E eu concordarei. Todo artista que se preza
sabe que há uma paixão arrebatadora e inigualável entre artista e obra. Basta
dizerem que ele a amava mais que tudo.
E eu concordarei satisfeito,
mesmo sabendo da dor dessa Poesia.