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domingo, 8 de dezembro de 2013

Fumaça gêmea

Fumaça gêmea




                O primeiro olhar fora confuso. Sua visão era embaçada pela fumaça que se forçava a tragar para fingir a nova dona de seu afeto que tinham alguma coisa em comum. Para ela, uma verdadeira amiga em comum. Estava sempre com ela em seus piores e melhores momentos. Casara fumando (maconha, na praia) e se separara fumando (tabaco, na porta do cartório). De fato, no auge de seus 25 anos a ruiva já não se lembrava de qual fora a ultima vez que estivera sem sua alma gêmea.

                 No segundo olhar, a distinguiu melhor, dentre tanta fumaça. Viu seus belos cabelos vermelhos e foi capaz de travar um dialogo e, ainda que toda aquela fumaça forçada em sua garganta o estivesse prestes a sufocar, ao mesmo tempo a fumaça o mantinha em paz. Ele não sabia porque era assim, mas sabia que por ser assim ele precisava insistir naquilo.

                  La pro centésimo olhar (Já não interessava mais contar) acreditava enfim que a tinha entendido. Via refletir em suas fumaças coloridas seu estado de espírito e via a forma como era capaz de contagiar os outros com sua alma (gêmea). E era o mais contagiado. A fumaça em sua garganta já não incomodava. Estava completamente viciado nela.

                  No último olhar, enfim a entendeu. Só depois de tantos olhares foi capaz de perceber que a fumaça jamais fora sua alma gêmea, era apenas sua alma. Por isso tantas cores, independentes do cigarro. Cores que dominavam seu cabelo e tudo ao seu redor. Era ela, com sua alma maior que seu corpo conseguia suportar. No ultimo olhar a viu pela primeira vez sem fumaça. Pela primeira vez sem vida. Apesar disso, agora todos seus amigos eram vistos de forma turva. Seu corpo viraria pó, mas sua amigaem comum continuaria a correr o mundo, ao lado de todos na sala e, principalmente, dele.

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